quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A colina (presente na gema de ovo) foi apontada também como estimulante da neurogênese.

Origem do Alzheimer permanece oculta
Falta de definição sobre as causas do mal dificultam pesquisas

Publicado em 11/01/2008 - 15:00


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Se combater um vírus complexo como o HIV, já é um desafio tremendo, imagine lutar com algo que não se conhece? Pois o enfrentamento da doença de Alzheimer é feito assim, já que ainda não se sabe quais são suas causas. É por isso que os trabalhos existentes hoje vão muito mais no sentido de atenuar os sintomas e melhorar de alguma forma a vida dos doentes e, de quebra, dos familiares, do que propriamente buscar uma cura. O mal de Alzheimer é uma doença degenerativa que compromete o cérebro. Ela causa problemas de memória, confusão no raciocínio e mudanças comportamentais.

A doença pode se manifestar a partir dos 40 anos, mas é a partir dos 60 anos que a incidência dela se acentua de maneira dramática. Figuram entre os principais sintomas do Mal de Alzheimer a perda gradual da memória, declínio no desempenho para tarefas cotidianas, diminuição do senso crítico, desorientação têmporo-espacial, mudança na personalidade, dificuldade no aprendizado e dificuldades na área da comunicação.

Embora não se conheça a causa da doença e tampouco haja cura, a ciência estuda os rastros da doença para tentar combatê-la. Sabe-se que os afetados pelo Alzheimer perdem neurônios. Alguns desses neurônios produzem neurotransmissores, são substâncias que levam a informação de uma célula cerebral para outra.

Como os responsáveis pela fabricação do neurotransmissor haviam sido perdidos, a abordagem das pesquisas foi no sentido de bloquear a ação da enzima que deveria destruir uma dessas substâncias após seu uso, ao invés de jogar fora o neurotransmissor a idéia é reaproveitá-lo.

Mas o médico neurologista e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Cícero Galli Coimbra, alerta para a baixa eficiência da estratégia.

Há, por exemplo, consenso de que as causas do Mal não são fatores genéticos, embora eles possam até contribuir. Daí, sobram fatores externos e comportamentais. Coimbra conta algumas das principais descobertas acerca do Alzheimer.

"Descobriu-se que duas enzimas que deveriam eliminar substâncias neurotóxicas (aquelas que são tóxicas para o sistema nervoso) estavam com atividade baixa", explica ele. Essas enzimas tinham o trabalho de transformar duas substâncias tóxicas, entre elas a amônia, numa substância protetora, a glutamina.

Isso deixa o sistema nervoso exposto a substâncias prejudiciais.

Outra descoberta recente veio depois que a ciência comprovou que as células do sistema nervoso continuam a ser produzidas, é o que se chamou de neurogênese.

Acreditava-se antes que a perda delas era irreparável.

Só que os doentes de Alzheimer têm a neurogênese menos ativa e as pesquisas querem buscar uma resposta para essa questão. Além de perder neurônios, o organismo perde a capacidade de repor as peças, fora o fato de ser incapaz de transformar toxinas em seu próprio benefício.

Nessa equação aparece ainda a colina, substância presente em grande quantidade na gema do ovo.

Um estudo publicado em 1997 demonstrava que a administração de colina em ratas prenhas gerava filhotes com quantidade elevada de neurônios a mais do que os filhotes de ratas que não receberam colina.

Os primeiros foram melhor sucedidos nos testes de memória, que usam labirintos em laboratório. A colina foi apontada também como estimulante da neurogênese.

"Só que o cérebro de pessoas com mais idade tem dificuldade de captar colina", explica Coimbra.

"Existem perspectivas de tratamentos voltados para as possíveis causas em função desses achados", acrescenta ele.

É interessante notar como os hábitos passam a interferir de maneira significativa nesse contexto.

A ingestão de ovo diminui nas pessoas mais velhas por causa do combate ao colesterol.

Justamente quem mais precisava absorver colina, abandona uma fonte natural abundante da substância.

Coimbra cita ainda a baixa exposição à luz solar por parte da população urbana, sempre confinada a ambientes fechados, no comprometimento da absorção de vitamina D pelo organismo.

Esse complexo contribui para a produção de defesas antioxidantes nas células nervosas.

Outro malefício da vida moderna urbana é o estresse, que segundo Coimbra, acelera o envelhecimento do cérebro.

Aí é de se perguntar: com tantos indícios pontuais porque não se chegou a um tratamento mais eficaz contra o Alzheimer?

Então Coimbra revela uma realidade nefasta da indústria farmacêutica mundial, pautada sobretudo na obtenção de lucros, hábito do mercado.

"Substâncias como essas (colina, entre outras) não podem ser patenteadas (porque são naturais, produzidas pelo organismo) e por isso se perdeu o interesse comercial nessas pesquisas.

O grande problema dessas descobertas é que elas não se traduzem em benefício por falta de interesse de comercialização", diz ele.

Por causa disso, muitas dessas substâncias deixam de ser testadas porque os laboratórios sabem que não poderão patenteá-las, pois tratam-se de substâncias naturais.

"A indústria farmacêutica é como uma empresa qualquer, se não há interesse financeiro, ela não investe.

Ela precisa das doenças para ter o seu mercado", resume Coimbra.

Portanto, esqueça a idéia de um mundo em que todos lutam na busca do fim dos males que assolam a humanidade.

A obtenção de dinheiro ainda é mais importante do que o bem-estar da espécie.

Por causa disso, esse tipo de pesquisa fica restrita às universidades, que têm muito menos recursos que as grandes empresas farmacêuticas.

Só para se ter uma idéia, uma empresa de grande porte do setor farmacêutico chega a gastar mais de US$ 200 milhões num único protocolo de pesquisa.

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