Publicado em 02/07/2010
Uma nova pesquisa sugere que a suplementação com uma fórmula alimentar que funciona restaurando sinapses parece melhorar a memória verbal em pacientes com doença de Alzheimer (DA) leve.
Os resultados de um ensaio clínico controlado, duplo-cego, randomizado, de 12 semanas, evidenciaram que 40% dos pacientes randomizados a receber o produto ativo Souvenaid, uma bebida com múltiplos nutrientes, experimentaram melhorias na memória verbal quando comparados a 25% dos participantes que receberam uma bebida controle.
“No critério de validação primário de memória, observamos um efeito em 3 meses modesto, mas estatisticamente significativo, em favor do Souvenaid. Este é um estudo de prova de conceito desenvolvido para determinar se este produto é seguro e potencialmente eficaz.
Embora esses resultados sejam muito modestos, eles nos fornecem sinais suficientes para continuar essa pesquisa em ensaios clínicos maiores”, o pesquisador principal, Philip Scheltens, médico, PhD, diretor do Alzheimer's Centre, no Vrije Universiteit Medical Center em Amsterdã, na Holanda, contou à Medscape Psychiatry.
O estudo está publicado na edição de janeiro de Alzheimer's & Dementia.
Resultados pré-clínicos impressionantes
Desenvolvido para melhorar a formação de sinapses, o Souvenaid contém “os precursores e nutrientes de suporte necessários para agir em sinergia para aumentar a formação e a função da membrana em pacientes com DA”.
Resultados promissores de pesquisas pré-clínicas do Souvenaid lideradas por Richard J. Wurtman, médico, do Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, forneceram o ímpeto para o estudo atual.
“O Dr. Wurtman conduziu quase 10 anos de pesquisa básica com o Souvenaid em um grande número de modelos animais e in vitro com resultados muito impressionantes, e isso nos levou a organizar um ensaio clínico para que pudéssemos observá-lo com mais profundidade”, alegou o Dr. Scheltens.
Segundo o estudo, o Souvenaid inclui 3 precursores fosfatídios – uridina nucleotídeo, ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 e colina – que são essenciais para a formação das membranas sinápticas.
“Esses nutrientes aumentam de forma sinérgica os níveis cerebrais das moléculas de fosfatídios que compõem a maior parte das membranas sinápticas e os níveis cerebrais de proteínas sinápticas específicas, sugerindo que eles também podem aumentar a formação de sinapses”, escrevem os autores do estudo.
Além disso, disse o Dr. Scheltens, a pesquisa animal e in vitro mostra que esses nutrientes causam brotamento dendrítico o que, por sua vez, leva a um aumento da produção de sinapses. “Nós achamos mais conexões estão sendo formadas e as conexões perdidas estão sendo restauradas”, disse ele.
Testado como um medicamento
Em 5 centros na Europa e Estados Unidos, o ensaio incluiu 225 pacientes virgens de tratamento com escores no Mini-Mental State Examination de 20 a 26. Os pacientes foram randomizados a receber o Souvenaid ou uma bebida placebo uma vez ao dia por 12 semanas.
As medidas do critério de validação primário do estudo foram tarefas de recordação verbal tardia no Wechsler Memory Scale–Revised (WMS-R) e a subescala de 13 itens modificada Alzheimer's Disease Assessment Scale-cognitive (ADAS-cog).
“Basicamente, nós pegamos essa bebida composta por múltiplos nutrientes e criamos um ensaio da doença de Alzheimer bem padronizado como se fosse um medicamento”, disse o Dr. Scheltens.
Em 12 semanas, os pesquisadores descobriram melhorias significativas nos escores do WMS-R de recordação verbal tardia no grupo do Souvenaid comparado ao grupo placebo (P = ,021). Todavia, não houve mudanças nos escores ADAS-cog em qualquer grupo.
“Não observamos qualquer efeito no ADAS-cog. Existem algumas explicações possíveis para isso. Pode ser que o ADAS-cog não seja muito sensível nos estágios mais precoces da doença de Alzheimer ou talvez o estudo não tenha tido poder suficiente para extrair essas informações”, afirmou o Dr. Scheltens.
Os pesquisadores também concluíram que pacientes no grupo de tratamento ativo que apresentaram doença de Alzheimer mais leve evidenciaram as melhores melhorias.
Equivalente a um ensaio farmacêutico de fase 2
Segundo o Dr. Scheltens, o suplemento foi bem tolerado, e não houve diferenças significativas na incidência de eventos adversos entre os 2 grupos de estudo. Além disso, a maioria dos eventos adversos não foi relacionada aos produtos do estudo.
O estudo também incluiu um período de extensão de 3 meses durante o qual os pacientes poderiam escolher continuar o regime duplo-cego ou iniciar a suplementação aberta com o Souvenaid. Cerca de 85% dos indivíduos continuaram o regime duplo-cego, fornecendo aos pesquisadores 6 meses de dados, os quais os pesquisadores estão analisando no momento.
“Se este fosse um estudo farmacêutico, seria equivalente a um ensaio de fase 2. Nós queríamos verificar se o Souvenaid era seguro, bem tolerado e efetivo, e de fato esses resultados precoces parecem positivos. Contudo, ainda é muito cedo para fazer quaisquer recomendações clínicas com base neles”, disse o Dr. Scheltens.
Não obstante, ele acrescentou, se os resultados de 3 grandes ensaios clínicos atualmente em andamento nos Estados Unidos e Europa replicarem esses resultados, o Souvenaid pode fornecer aos clínicos outra opção de tratamento para seus pacientes.
“Se os resultados desses ensaios forem positivos, e é claro que esperamos que eles sejam, isso nos daria uma complementação muito necessária para nossa estratégia de tratamento de pacientes com DA. Não estou dizendo que isso substituiria os inibidores da colinesterase, mas seria um complemento.
“O Souvenaid é seguro e muito atraente para os pacientes. Ele é muito bem tolerado e nós também observamos que o IMC [índice de massa corporal] no grupo de tratamento ativo subiu um pouco e os pacientes sentiram-se melhores de forma geral. Portanto, nós acreditamos que ele tem o potencial para ser uma boa adição à atual estratégia de tratamento, o que irá beneficiar a memória dos pacientes”, alegou o Dr. Scheltens.
Além disso, ele acrescentou, é possível que o Souvenaid possa ter utilidades clínicas que se estendem da doença de Alzheimer a outros distúrbios neurodegenerativos, como a doença de Parkinson ou outras condições que envolvem a perda de sinapses.
Problemas regulatórios
A Alzheimer's Association expressou preocupação sobre os chamados alimentos médicos em geral – principalmente porque sua eficácia ainda não foi provada. O médico e cientista chefe, William Thies, PhD, contou à Medscape Psychiatry, que o rigor com que o Dr. Scheltens e sua equipe estão testando o Souvenaid é tranquilizador.
Entretanto, ele apontou, existe uma grande questão regulatória que necessita ser abordada, observando que a US Food and Drug Administration não exige o mesmo nível de testes para a aprovação de alimentos médicos como o faz para medicamentos, deixando os pacientes e suas famílias vulneráveis a alegações não comprovadas.
O Dr. Scheltens alegou que seu grupo compartilha as preocupações da associação. “É por isso que estamos fazendo esses ensaios. Eu acho que antes de persuadir os médicos a prescreverem algo, é preciso ter provas. Eu nunca prescreveria qualquer coisa se não a tivesse visto ser testada. Para mim, o fato de que alimentos médicos possuem uma via regulatória diferente é irrelevante. Eu preciso observar evidências de ensaios clínicos”, disse ele.
O estudo foi financiado pelo um fundo ilimitado da Danone Research. O Dr. Scheltens não declarou quaisquer relações financeiras relevantes. As declarações dos outros pesquisadores estão divulgadas no artigo original.
Alzheimers Dement. 2010;6:1-10.
Informação sobre a autora: Caroline Cassels é chefe de reportagem da Medscape Psychiatry. Jornalista médica e da área de saúde há 20 anos, ela escreveu extensivamente para o público médico e consumidor geral. Ela ajudou a lançar e foi editora da Health Digest, uma premiada publicação canadense destinada a consumidores da área de saúde. Carolina também foi editora nacional do web site canadense Heart & Stroke Foundation antes de se juntar à Medscape Neurology & Neurosurgery em 2005 e venceu o American Academy of Neurology Journalism Fellowship Award de 2008.
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Outra publicação:
uridina
A uridina, de designação química 1-β-D-ribofuranosil-uracilo, consiste num nucleótido formado pelo açúcar ribose e pelo composto orgânico azotado uracilo.
A união da uridina com uma ou mais moléculas de ácido fosfórico dá lugar a ribonucleótidos de grande importância no metabolismo. Assim, o monofosfato-5 de uridina (ácido uridílico, UMP) é um produto inicial para a síntese de outros nucleótidos pirimidínicos e um dos blocos estruturais dos ácidos ribonucleicos; o difosfato-5 de uridina (UDP) e o trifosfato-5 de uridina (UTP) intervêm na síntese do glucogénio e das glicoproteínas; o monofosfato cíclico 3,5 de uridina (UMP cíclico) fá-lo também em determinados processos de regulação da célula.
Como referenciar este artigo:
uridina. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-12-18].
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