domingo, 19 de dezembro de 2010

O alimento mais saudável do mundo

The New York Times

Nicholas D. Kristof

Em Tegucigalpa (Honduras)


Qual é o alimento mais delicioso, nutritivo, requintado e gratificante do mundo?

Não se trata da ambrósia nem pizza de pepperoni.

Dica: é muito mais barato.

Um ano de suprimento custa menos do que o hambúrguer mais barato.

Não sabe?

Aqui vai outra dica: ele pode salvar a vida de crianças e mulheres que podem engravidar.

Se você conhece uma mulher que pode ficar grávida, garanta que ela obtenha essa substância milagrosa.

A última dica: foi a falta dessa substância que levou à tragédia com a qual me deparei recentemente em um hospital aqui na capital hondurenha.

Três bebes estavam deitado em berços pertos uns dos outros, todos com defeitos de nascença no cérebro e na medula espinhal.

No primeiro berço estava Rosa Álvarez, de 18 dias, que se recuperava de uma cirurgia para reparar um buraco na coluna.

Ela também sofre de uma deformidade cerebral.

No berço seguinte estava Ángel Flores, com um tecido protuberante nas costas.

O mais perto da porta era José Tercera.

Sua mãe tirou uma faixa que envolvia sua cabeça e eu pude ver um pedaço de seu cérebro, do tamanho de uma bola de golfe, saindo de um buraco em sua testa.

Os médicos acreditavam que a razão para essas deformidades era que suas mães não receberam micronutrientes em quantidade suficiente, particularmente ÁCIDO FÓLICO, durante a gravidez.

Esses micronutrientes são a substância milagrosa a que me refiro.

Praticamente não há outra forma de ajuda do exterior com melhor custo-benefício para obtê-la do que inseri-las no fornecimento de alimentos.

"Esses problemas são desnecessários", disse Dr. Ali Flores, pediatra e especialista nesses defeitos, enquanto observava os três bebês.

Se uma mulher grávida não recebe ácido fólico (também conhecido como vitamina B9) em quantidade suficiente em seu corpo bem no início da gravidez, seu feto pode sofrer esses defeitos.

É por isso que os médicos dão ácido fólico a mulheres que planejam engravidar.

Igualmente importante é outro micronutriente, o iodo. A pior consequência da deficiência de iodo não é o bócio, mas a má-formação do cérebro do feto, que elimina permanentemente de 10 a 15 pontos de seu QI.

Há também o zinco, que reduz as mortes de crianças por diarreia e infecções. Há o ferro, cuja falta causa anemia. E a vitamina A: cerca de 670 mil crianças morrem todos os anos porque não recebem vitamina A o suficiente, e a carência dessa vitamina permanece sendo a principal causa de cegueira infantil no mundo.

"Nos primeiros estágios da vida a sorte é lançada", disse David Dodson, fundador do Project Healthy Children, um grupo de ajuda que combate as deficiências de micronutrientes em Honduras e outros países pobres. "Se uma criança não está recebendo os micronutrientes certos, o efeito é permanente".

Há nove anos, Dodson era simplesmente um empresário americano que administrava uma empresa de lixo com 300 funcionários, fundada por ele.

Então, ele visitou Honduras e, em um hospital, encontrou uma mãe cujo bebê recém-nascido tinha um buraco no crânio.

Ele ficou sabendo que uma quantidade pequena de ácido fólico poderia prevenir esses dolorosos defeitos - e sua vida mudou.

"Nunca tinha visto nada na vida que pudesse ter tanto impacto por tão pouco investimento e que pudesse ser sustentável", disse Dodson.

Ele e sua mulher, Stephanie, venderam a empresa e usaram parte do dinheiro para dar início ao Project Healthy Children.

A forma com melhor custo-benefício de distribuir micronutrientes não é entregá-los.

Mary Flores, ex-primeira-dama de Honduras que é ativa na área da nutrição, observa que mulheres pobres podem ser difíceis de encontrar, e mesmo se receberem pílulas de ácido fólico elas às vezes podem não as tomar com medo de que elas sejam, na verdade, pílulas anticoncepcionais.


Assim, os micronutrientes são adicionados a alimentos comuns, como sal, açúcar, farinha ou óleo de cozinha.

Acrescentar iodo, ferro, vitamina A, zinco e várias vitaminas do complexo B, incluindo o ácido fólico, a uma gama de alimentos custa cerca de 30 centavos de dólar por pessoa por ano.

Grupos que focam nos micronutrientes também incluem a Helen Keller International e Vitamin Angels.

Nos Estados Unidos, a agência Food and Drug Administration exige que a farinha seja fortificada com ácido fólico desde 1998.

Até mesmo nesse país, com alimentação, assistência médica e fortificação melhores, não são todas as mulheres que recebem micronutrientes em quantidade suficiente, mas o problema é muito pior em países pobres.

Dodson observa que é muito mais barato prevenir defeitos de nascença do que tratá-los.

"Não é um problema de saúde global muito atraente, mas é fundamental para manter uma população saudável", disse Dodson.

"Colocar pequenas quantidades de ferro, iodo e ácido fólico nos alimentos não tem atraído a atenção tanta atenção quanto tratar de uma pessoa doente ou em um campo de refugiados.

Até pouco tempo atrás, essa questão estava fora do radar de todo mundo".

À medida que os Estados Unidos reorganizam seu caótico programa de assistência, deveriam tentar promover o que pode ser o alimento mais delicioso do mundo: os micronutrientes.

Tradução: Gabriela d'Avila

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